Eduardo Sued | Pintura: 100 anos | 17 Jun 2025 - 16 Ago 2025




Eduardo Sued: Inovador
RONALDO BRITO
Na história da pintura moderna brasileira, mais especificamente nas linguagens abstrato-geométricas, tão importantes para nós, Eduardo Sued é um inovador. Como colorista, abriu decididamente sua paleta à vibrante (e também cegante) luz tropical, sem recorrer aos cansativos clichês tropicalistas miméticos e representacionais. E como estruturador espacial, veio a dominar com fluência o Plano Cubista e seus desenvolvimentos construtivistas já distante, no entanto, de suas expectativas utópicas perfeitamente datadas. Em ambos os campos, o artista se move com a autoridade de quem trabalha de modo independente, livre dos protocolos e ditames de Escolas e ideologias. É verdade que se beneficiou justamente de sua condição tardia: aos quarenta e tantos anos, ainda penava sob a inércia de nosso intimismo e da rala materialidade pública da arte moderna no país. No caso, isso se fazia muito sob a influência inibitória de dois grandes artistas que, naquele momento, paradoxalmente, seduziam nossas retinas tímidas mas já ansiosas pelas promessas da liberdade moderna: Paul Klee e Giorgio Morandi. Pintores de pequenos formatos, mestres do sub-tons poéticos e consideráveis recursos encantatórios, que nos afastavam, porém, da visualidade pura e desinibida de um Matisse ou do último Mondrian.
É evidente, por exemplo, a correlação entre os pequenos formatos de Volpi e Dacosta (o geométrico, naturalmente) e seu consumo privado e doméstico. Também é óbvio que os grandes painéis de Portinari têm tudo a ver com a épica memorialista ou celebratória dos salões acadêmicos, e nada a ver com a crescente corporeidade que a aventura da pintura moderna cobrava de suas produções, até para ocuparem seu devido lugar na escala da metrópole. Foram necessários não apenas os inevitáveis anos de aprendizagem do ofício, acima de tudo, foi imprescindível compreender a pintura como processo de auto-formação do sujeito moderno e a conquista de sua liberdade intrínseca. Há que entrar e sair de Picasso e Matisse, para citar apenas os canônicos, sem pedir licença, o que se estende para a história da arte inteira. Enfim, trata-se de empreender, por conta própria, a releitura produtiva, viva e ativa, do passado. E avançar até onde for legítimo no convívio com seus contemporâneos, isto é, sem afetações postiças: daí que, formado sobretudo pelo laboratório parisiense, Eduardo Sued pouco pode se valer da extraordinária pintura americana de nosso tempo. Um tanto de Rothko, talvez.
Notem, uma coisa é pintar “Pollocks”– tivemos nossa cota deles com certeza – outra é de fato incorporá-lo, transitar em sua pictórica. Que eu saiba, nem o muito mais jovem, o mais desinibido e cosmopolita de nossos pintores, de morte cruelmente precoce, Jorge Guinle, conseguiu fazê-lo. Jackson Pollock podia ser o seu ídolo mas, pictoricamente, ele conversava mesmo era com de Koonning. De maneira análoga o grande Iberê Camargo encontrou seus eventuais pares do pós-guerra no grupo Cobra – Karel Appel, em particular – entrou e saiu de Picasso e do abstracionismo lírico, para depois abandoná-los em favor de uma espécie autêntica de expressionismo sulista, longe dos espaços imaginários nórdicos, quem sabe, próximo ao pampa. Por imperativo existencial, pelo fato de que, também para ele, a obra de pintura coincidia com seu processo de autoformação como sujeito moderno.
Pessoalmente, Eduardo Sued é um desses raros conversadores de poucas palavras, se me faço entender. Sem a menor ostentação, tem algo do Sábio com suas repetições certeiras. Ouve Webern e Alban Berg como eu ouço Thelonious e João Gilberto. E a gente acaba por perceber que, afinal, ele pensa as cores e as espacializa nesse registro, numa dimensão atonal devidamente assimilada. Tampouco produz segundo as fases convencionais e sim graças a momentos pictóricos que se alternam e diferenciam, se entremeiam e renovam, perfazem assim um Conjunto Aberto. E, para quem preste a atenção que merecem, mobilizam o olhar inteligente. Abram bem os olhos, depois fechem, olhem de novo, o quadro nunca é o mesmo.
Eduardo Sued: Um Século de Vida e uma Contribuição à Arte Contemporânea Brasileira
PAULO SERGIO DUARTE
Eduardo Sued, um dos maiores expoentes da arte contemporânea brasileira, celebra 100 anos de vida em 10 de junho de 2025, demonstrando que a vitalidade criativa pode transcender as barreiras do tempo. Este marco extraordinário convida a uma reflexão sobre a relevância e impacto de sua obra na história da arte brasileira, especialmente dentro do contexto da pintura moderna e das possibilidades que ela oferece.
Apesar de uma simpatia inicial com o expressionismo, o artista, a partir de 1969, construiu uma identidade artística marcada pela adoção de uma linguagem construtivista combinada a ousadas conjunções cromáticas que revolucionaram a pintura moderna brasileira. Sua obra transcende o mero uso de cores; ela explora a interação entre formas e tons, criando diálogos visuais que transformam a experiência do espectador.
Desde seus primeiros trabalhos, Sued demonstrou uma maestria incomum no uso de superfícies vermelhas, cinzas e azuis, acompanhadas por geometrias sutis que pareciam repousar tranquilamente sobre a tela. Essa serenidade inicial foi rompida a partir da década de 1980, quando o preto – diferenciado do negro pelo próprio artista – começa a ocupar grandes áreas em suas composições e provoca um despertar fascinante das cores ao seu redor. As pinceladas vigorosas, expressivas e até mesmo pulsantes, criam uma dinâmica que dá uma nova vida à obra, como se a pintura estivesse em constante movimento.
Outra marca indelével da obra de Sued é sua generosa exploração de escalas. Essa abordagem ampliada e inédita trouxe uma nova perspectiva à pintura moderna no Brasil, abrindo caminhos para que outros artistas experimentassem composições monumentais e ambiciosas. Essa ampliação não se limita ao tamanho físico das obras, mas também à profundidade emocional e à densidade visual que elas proporcionam.
Para Sued, a escala não é apenas uma questão de tamanho, mas sim uma exploração do espaço e da relação entre os elementos que compõem a obra. Essa interação entre forma, cor e movimento possibilita um diálogo constante entre o artista e o público, transformando cada tela em um universo a ser desvendado.
À medida que sua carreira evoluía, Sued também demonstrou uma notável capacidade de adaptação e inovação. As pinceladas expressivas que marcaram seus trabalhos dos anos 1980 começaram a se tornar mais calmas e controladas, mas nunca perderam sua essência dinâmica. Até em sua serenidade, o movimento permanece palpável, deixando traços do pincel que narram o processo criativo do artista.
Esse aspecto altera radicalmente a dinâmica do trabalho, fazendo com que cada obra de Sued seja um testemunho vivo de sua evolução técnica e de sua constante busca por novas formas de expressão. Mesmo em sua fase centenária, Sued continua sendo um exemplo de resistência artística e de paixão pelo ato de criar.
Eduardo Sued não é apenas um pintor; ele é um marco na arte brasileira. Seu trabalho influenciou gerações de artistas, inspirando-os a explorar o construtivismo, a ousar nas combinações cromáticas e a desafiar os limites da pintura moderna. Sued também é um exemplo de como a arte pode ser um exercício de reinvenção constante, uma busca interminável por novas possibilidades.
Além disso, sua distinção entre preto e negro, que muitos consideram uma nuance sem importância, revela a profundidade com que o artista enxerga cada elemento de suas obras. Para Sued, cada detalhe importa, e é essa atenção minuciosa que eleva sua arte ao patamar de genialidade.
O centenário de Eduardo Sued é mais do que uma comemoração; é um chamado para revisitar e celebrar sua obra em toda a sua complexidade e beleza. É uma oportunidade para refletir sobre como sua arte mudou paradigmas, inspirou novos caminhos e continua a influenciar a arte brasileira.
Seus 100 anos de vida e de atividade artística são um testemunho do poder transformador da arte e da capacidade de um indivíduo de moldar a cultura de um país. Eduardo Sued é, sem dúvida, uma figura indispensável na história da arte contemporânea brasileira, e 2025 será um ano para reconhecer e honrar esse legado extraordinário.
Por último, o artista manifesta um desejo para essa data notável: realizar uma exposição na Galeria Maneco Müller : Multiplo, no Leblon, no Rio de Janeiro, que sempre lhe reconheceu. Viva Sued!
Junho de 2025.
SERVIÇO
Exposição de arte contemporânea
Título: Pintura: 100 anos
Local: Maneco Müller : Multiplo
Abertura: 17 de junho, das 18h às 21h
Período expositivo: até 16 de agosto de 2025
Horário: de segunda a sexta, das 10h às 18h30 e sábados das 10h às 14h
Endereço: Rua Dias Ferreira, 417/206 - Leblon – Rio de Janeiro
Telefones: + 55 21 2294 8284 | +55 21 20420523 (WhatsApp)
Entrada franca
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