O espetáculo da coerência | Exposição 15 anos | 12 dez - 23 jan
15 anos | O Espetáculo da Coerência
Paulo Sergio Duarte
Há 15 anos atrás o casal Stella da Silva Ramos e Maneco Müller abriam uma galeria de arte num primeiro andar no Leblon, bem em cima da livraria Argumento: a Mul.ti.plo. Comparada com as galerias existentes no mesmo bairro e na Gávea, tem um espaço modesto. O que a destacou foi a qualidade da programação.
A arte contemporânea está contaminada por questões políticas. Estas, ainda que socialmente pertinentes, quando transportadas para as obras de arte inibem as investigações de linguagem. Trata-se de uma verdadeira regressão histórica que está ocorrendo nos quatro cantos do planeta. É como nos transportassem para a era pré-moderna, quando os conteúdos deveriam governar a forma. A Maneco Müller : Multiplo, em nenhum momento caiu nesta tentação. Sempre primou por uma seleção governada pelos efetivos problemas de investigação da linguagem. Eu, mesmo com mais de cinquenta anos de exercício da crítica de arte, descobri coisas raras no campo da arte graças às escolhas de Stella e Maneco.
As exposições que marcam o aniversário, baseadas, sobretudo, no acervo da galeria demonstram de modo evidente a contribuição da Maneco Müller : Multiplo na formação de um público para a arte contemporânea que mais nos provoca e faz pensar.
Este é o momento de nos lembrar o papel do aparecimento do mercado de arte no século XIX para a expansão da arte moderna. Devemos lembrar que, no Ocidente, até o século XVIII, a arte foi governada pelos interesses do clero e da nobreza. O que um papa, um bispo ou um pastor, um nobre exigia era cumprido à risca pelo artista. Com a revolução industrial no final do século XVIII, o século XIX assiste ao aparecimento do marchand no seio de um mercada voltado para atender, mas também educar, as novas classes ascendentes: burgueses e pequenos burgueses. Esse novo clima é decisivo para expansão da arte moderna e suas investigações de linguagens desafiadora e antiacadêmicas.
Quase duzentos anos depois os marchands brasileiros cumprem esse papel num país ainda muito injusto e desigual. No Rio de Janeiro, a Maneco Müller : Multiplo se destacou no cumprimento desse papel. Que venham os próximos 15 anos. Parabéns!
Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 2025.
SERVIÇO
Exposições comemorativas - 15 anos da Maneco Müller : Multiplo Galeria
Título: O espetáculo da coerência
Local: Maneco Müller : Multiplo Galeria
Exposição 1: De 11 de dezembro de 2025 (abertura às 18h) até 23 de janeiro de 2026
Exposição 2: De 29 de janeiro (abertura às 18h) até 6 de março de 2026
End.: Rua Dias Ferreira, 417/206 - Leblon - Rio de Janeiro – CEP 22431-050
Visitação: De segunda a sexta-feira, das 10h às 18h30 (sábados, sob agendamento)
End: Rua Dias Ferreira, 417/206 – Leblon – Rio de Janeiro
Tel.: +55 21 2259-1952
Entrada franca
www.instagram.com/mmmgaleria
A Maneco Müller : Multiplo, no Leblon, celebra 15 anos de atividade em dezembro. Para marcar a data, a galeria convidou o crítico Paulo Sérgio Duarte para conceber duas exposições comemorativas, batizadas por ele como “O espetáculo da coerência”. Organizadas em duas coletivas consecutivas, as mostras reúnem artistas centrais da arte contemporânea brasileira — nomes que atravessam e constroem a trajetória da galeria. A primeira exposição será inaugurada no dia 11 de dezembro de 2025, às 18h, e permanece em cartaz até 23 de janeiro de 2026; a segunda, abre no dia 29 de janeiro e segue até 6 de março. Mais do que celebrar o aniversário, a programação exalta a vitalidade da arte contemporânea brasileira ao longo desses 15 anos da galeria.
Para as duas mostras coletivas, Paulo Sérgio Duarte reuniu trabalhos representativos da trajetória de alguns dos mais importantes artistas que passaram pela casa. Na primeira, o público poderá conferir esculturas de José Resende, José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, Maria-Carmen Perlingeiro e Waltércio Caldas; desenhos de Pedro Cabrita Reis; e pinturas de Ana Calzavara, Célia Euvaldo, Daisy Xavier, Eduardo Sued, Elizabeth Jobim e Renata Tassinari. Na segunda, estarão obras de Amalia Giacomini, Ana Holck, Angelo Venosa, Antonio Dias, Carlos Vergara, Cildo Meireles, Fernanda Junqueira, Gabriela Machado, José Bechara, Luiz Zerbini, Roberto Magalhães, Sandra Antunes Ramos, Teresa Salgado, Tunga e Walter Carvalho.
Para o curador Paulo Sergio Duarte, o nome da mostra é uma referência ao trabalho coerente da Maneco Müller : Multiplo ao longo do tempo. “Em sua jornada de 15 anos, a galeria fez uma seleção espetacular de artistas. E essa seleção é muito rara. Mesmo sendo uma galeria de modestas proporções em termos de espaço, comparada com outras grandes galerias que estão na Gávea ou no Leblon, ela preserva uma qualidade muito rara na sua programação”, diz ele. Pela primeira vez em sua história, a galeria convida um curador externo para conceber uma exposição no espaço. Até então, todas as mostras foram realizadas a partir de seleções próprias, orientadas pelos princípios da casa. “Para celebrar esse aniversário, fizemos questão de convidar um dos maiores intelectuais e conhecedores da arte contemporânea brasileira. Paulo Sérgio Duarte é um agente fundamental na construção do pensamento crítico, institucional e histórico da arte brasileira”, diz Maneco Müller, sócio da galeria, junto com Stella Ramos.
Segundo os galeristas, a relação deles com a arte sempre esteve além da lógica da compra e venda. “Para a galeria, as obras e os artistas são os verdadeiros protagonistas. Eles são a razão de ser do nosso negócio, que nasce de uma paixão profunda e de um enorme respeito pela arte”, afirma Stella. Maneco ressalta que o compromisso da galeria está na difusão da arte contemporânea e no acompanhamento das pesquisas dos artistas, oferecendo a eles apoio no desenvolvimento de suas poéticas. “Entendemos a arte como uma construção de linguagem, e não como um objeto de consumo. Em um mundo saturado de certezas, é a arte que nos devolve a dúvida — ampliando nossa capacidade de compreensão do mundo”, diz ele. “Foi esse compromisso que orientou cada uma de nossas escolhas desde 2010 até hoje. Estamos convictos de que esse é o papel da galeria. Nesse aniversário de 15 anos, reafirmamos nosso propósito, consolidando o espaço como um território de reflexão, pensamento crítico, diálogo e ‘desaprendizagem’”, finaliza Maneco.
Exposição 1 - 11 de dezembro a 23 de janeiro: Ana Calzavara - Célia Euvaldo - Daisy Xavier - Eduardo Sued - Elizabeth Jobim - José Pedro Croft - José Resende - Maria-Carmen Perlingeiro - Pedro Cabrita Reis - Renata Tassinari - Waltercio Caldas
Exposição 2 - 29 de janeiro a 6 de março: Amalia Giacomini - Ana Holck - Angelo Venosa - Antonio Dias - Carlos Vergara - Cildo Meireles - Fernanda Junqueira - Gabriela Machado - José Bechara - Luiz Zerbini - Roberto Magalhães - Sandra Antunes Ramos - Teresa Salgado - Tunga - Walter Carvalho
ASSESSORIA DE IMPRENSA
Júnia Azevedo
